A inevitabilidade da captura por parte de uma ideia estúpida.
Sim pode parecer estranho este título, mas aqui estou eu a escrever este post enquanto escuto John Lee Hooker (Whiskey and Wimmen´). Nesta noite de Verão sem estrelas nem lua, estou sozinho ao computador, enquanto afogo as mágoas numa bela sagres preta. E porquê? Porque toda a minha vida fui perseguido, desde pequenino que tinha a sensação de estar a ser perseguido, caçado e isso arruinou-me a vida, tentei fugir, mas finalmente fui caçado. A desgraça começou há uns meses, apesar de sempre ter tido a sensação de ser perseguido, fui-me convencendo a mim próprio que isso não passava de uma paranóia, bem o psicologo e a medicação também ajudaram. Mas, como disse, tudo começou há uns meses quando ía a saír do emprego, olhei para a esquina e lá estava ela, com olhar ameaçador, seguiu-me até casa. Nos dias seguintes sempre o mesmo, até que uma noite entrou em minha casa e então fugi. Corri, corri, de manha acordei num banco de uma praça qualquer, tinha-me deixado dormir, levantei-me e vi que estava perto da estação de comboios. Quando saí do comboio na França, pensei ligar para casa, a dizer que estava bem, mas lá estava a ameaçada a apenas uns metros de mim, desatei a gritar e a correr, por fim consegui escapar. Embarquei num cargueiro e durante um mês de faina no mar desembarquei em Angola. Agora estava certo que tinha escapado, mas passados 10 minutos em terra junto do aeroporto a ameaça esperava-me, desta vez completamente desesperado decidi ir pelo confronto, não durou muito, borrei-me de medo e enfiei-me num avião. Vim parar ao Japão que é onde estou agora. Durante duas semanas vivi num bunker debaixo de um tmplo budisda ou assim, sempre sobressaltado, mas, com o passar do tempo fui relaxando pensando que finalmente tinha escapado, até que hoje fui apanhado. Aqui estou com a vida desgraçada, depois de fugir da minha casa, da mulher dos filhos, do bem amado Portugal, deixar de ver o glorioso para agora ser apanhado. Capturado após uma vida de fuga fútil, a captura foi inevitável, finalmente esta ideia apanhou-me, sim, fui apanhado por uma ideia da qual fugi toda a vida. A ideia de escrever este post apanhou-me. Disseram-me que estava louco, que ninguém me perseguia, afinal não estava louco e agora fui apanhado pela ideia de escrever este post. Ao menos agora espero ter paz e de poder viver a vida sem fugir. Oh não desgraça, está ali outra ideia a olhar para mim. Aqueles olhos maquiavélicos fulminam-me. Ah mas agora não me apanham, nem morto. Adeus vou fugir antes que aquela ideia me apanhe.
p.s: Eu sou a ideia que persegue o António Júlio, sou a ideia de vestir as calças antes de saír de casa. Se o virem avisem. Obrigado.